A MULTIPLICAÇÃO DA MULHER DO GELADINHO
O povo em sua sabedora costuma afirmar: “O pouco com Deus é muito e o muito sem Deus é nada!” Claro que tal provérbio é reflexo do pensamento cristão extraído das ações praticadas por Jesus quando valorizava os pequenos “grãos de mostarda”, e quando multiplicava o pouco, mostrando que a fé é capaz de gerar solidariedade e fartura.
Sempre há no meio onde vivemos, pessoas que dão testemunho de desapego e prazer em ajudar o semelhante. Em minha vida de padre já encontrei muitas pessoas que reproduzem o Evangelho de Jesus nos dias de hoje.
Na paróquia do Arraial d’Ajuda/Porto Seguro, conheci uma senhora idosa muita querida por todos da comunidade de São Tiago. Ela afirma ter 90 anos, mas alguns acham que há engano, diante da energia que dona “Maria do Geladinho” esboça.
Dona Maria é uma senhora humilde que vende geladinho para completar a aposentadoria e ajudar os netos. Baixinha, corpo magro, alegre, participa de tudo na comunidade. Sempre que há oportunidade de fazer a procissão com a entrada da Bíblia, de forma solene, chamam dona Maria. Ela entra dançando, bailando para um lado e outro, erguendo e apresentando a Bíblia cheia de graça e prazer. Vejo o sorriso de todos (crianças, jovens e adultos) vendo a vibração daquela idosa, por conduzir o livro sagrado.
Mas, o que gostaria de destacar é uma ação que aconteceu comigo e dona Maria, recentemente. Eu estava assinando uns bilhetes da rifa da Comunidade Santa Rita, para ajudar na preparação da festa. Chegou dona Maria e ficou observando (ela é analfabeta) eu escolher os bilhetes. Terminando, entreguei a rifa à coordenadora, e dona Maria, com jeito e respeito, reclamou: “Padre, o senhor não vai me pedir para tirar um bilhetinho da rifa? Eu também quero ajudar a comunidade de Santa Rita”.
Na verdade, não ofereci porque sabia de sua luta para sobreviver e da pouca condição que tinha. Tentei argumentar que ela era dizimista e já havia colocado a sua oferta na missa. Ela me disse que não, que ali tinha sido outra intenção, e ela queria ajudar a comunidade de Santa Rita. Então, tirou de uma pequena bolsa feita de pano, uma nota toda machucada de dois reais e pediu para que eu escolhesse um nome e assinasse a rifa, o que fiz de imediato, emocionado com o gesto.
Aquela reação de dona Maria me deu subsídio para várias pregações sobre o desapego dos bens materiais; sobre o espírito fraterno e solidário; e sobre a maior de todas as virtudes ensinadas por Jesus: a CARIDADE.
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