21 de Março de 2016
João 12,1-11
No terceiro dia, houve um casamento em
Caná da Galileia, e a mãe de Jesus estava lá. Jesus e seus discípulos foram
convidados para o casamento. Faltando o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: “Eles
não têm vinho!” Jesus lhe respondeu: “Mulher, para que me dizes isso? A minha
hora ainda não chegou”. Sua mãe disse aos que estavam servindo: “Fazei tudo o
que ele vos disser!” Estavam ali seis talhas de pedra, de quase cem litros cada,
destinadas às purificações rituais dos judeus. Jesus disse aos que estavam
servindo: “Enchei as talhas de água!” E eles as encheram até a borda. Então
disse: “Agora, tirai e levai ao encarregado da festa”. E eles levaram. O
encarregado da festa provou da água mudada em vinho, sem saber de onde viesse,
embora os serventes que tiraram a água o soubessem. Então chamou o noivo e
disse-lhe: “Todo mundo serve primeiro o vinho bom e, quando os convidados já
beberam bastante, serve o menos bom. Tu guardaste o vinho bom até agora”. Este
início dos sinais, Jesus o realizou em Caná da Galileia. Manifestou sua glória,
e os seus discípulos creram nele.
Entendendo
O CASAMENTO ENTRE DEUS E A HUMANIDADE
O evangelho apresenta
uma festa de casamento. O casamento aqui está representando a relação entre
Deus e a humanidade. Cada símbolo vem carregado de sentido.
O “vinho”,
elemento indispensável na “boda”, é símbolo do amor entre o esposo e a esposa,
e também da alegria da festa. A falta do vinho traz o casamento antigo do povo
da antiga aliança, sem alegria, sem amor e sem festa.
Esta realidade
de uma “aliança” estéril e falida é representada pelas seis talhas de pedra
destinadas à purificação dos judeus. O número seis indica a imperfeição, o
incompleto; a “pedra” representa as tábuas de pedra da Lei (os 10 mandamentos).
A referência à “purificação” mostra os ritos e exigências da antiga Lei que
revelavam um Deus impositivo. Ora, um Deus assim pode-se temer, mas não amar.
As talhas
estão “vazias”, porque todo este aparato era inútil, não servia para aproximar
o homem de Deus, mas sim para o afastar desse Deus difícil e distante.
A “mãe” está
lá e percebe a falta do vinho. Ela representa o povo fiel que aguardava a vinda
de seu Filho. O povo que acreditou nas promessas de Deus.
O dono da casa
representa os dirigentes judeus, instalados e acomodados, sem perceber que o
antigo caducou e necessitava de novidade.
Os “serventes”
são os que colaboram com Jesus, e que estão dispostos a fazer tudo “o que Ele
disser” para que a “aliança” seja renovada.
Jesus é a
promessa de Deus ao vivo, dando nova vida à aliança do povo antigo que se
fechou e caducou. A obra de Jesus não será preservar as instituições antigas,
mas apresentar a novidade, o novo Reino Deus.
O episódio das
“bodas de Caná” anuncia o programa de Jesus: trazer à relação entre Deus e a
humanidade e apresentar o vinho da alegria, do amor e da festa. Este programa,
Jesus cumpre ao longo de toda a sua vida.
Atualizando
UMA DAS GRANDES ALEGRIAS QUE
DEUS NOS OFERECEU FOI A NOSSA FAMÍLIA
É necessário um esforço paciente para
aprender a apreciar as múltiplas alegrias humanas que o Criador coloca no nosso
caminho: a alegria da existência e da vida; a alegria do amor honesto e
santificado; a alegria tranquilizadora da natureza e do silêncio; a alegria,
por vezes austera, do trabalho bem realizado; a alegria e a satisfação do dever
cumprido; a alegria transparente de um coração puro, do serviço e do saber
partilhar; a alegria exigente do sacrifício.
O cristão poderá purificá-las,
completá-las e sublimá-las. A alegria cristã supõe um homem (uma família) capaz
de alegrias naturais. Frequentemente, foi a partir destas que Cristo anunciou o
Reino dos Céus.
A família tem hoje, tal como nas gerações
anteriores, um papel insubstituível na educação dos filhos. Ela é a Igreja
doméstica, tal como no-la apresenta o Concílio Vaticano II, a comunidade cristã
de referência, na qual os pais devem ser os primeiros e mais importantes
catequistas dos seus filhos. O ambiente familiar, onde os pais vivem e
testemunham a sua fé em Cristo ressuscitado, deve ser o espaço privilegiado da
educação na fé.
Os pais devem ser exemplo de fé para os
filhos e para se converterem em pessoas de fé têm de ser bons orantes. Não é
possível dialogar com um Deus sempre invisível, e hoje menos evidente na vida
das nossas famílias, se não se vive da contemplação. A felicidade de uma
família só existe quando há comunhão entre os esposos com os filhos e também
com Deus.
Para muitos pais torna-se difícil ver
algum raio de esperança face à situação em que se encontram muitas famílias,
mas a todos os que recordam com nostalgia o passado e as coisas que já não
existem, convém recordar o que, vários séculos antes de Cristo, Isaías disse
aos seus concidadãos em momentos de desolação e de mudanças irreversíveis:
“Não vos lembreis dos acontecimentos de outrora, não penseis
mais no passado, pois vou realizar algo de novo, que já está a aparecer: não o
notais? Vou abrir um caminho no deserto, e fazer correr rios na estepe.” (Is
43,18-19)
É fundamental a valorização do Sacramento
do Matrimônio, da família e da vida, com toda a sua envolvência; criar espaços
de formação com momentos celebrativos de encontro.
Mais do que incrementar a tensão que já
se vive no âmago de muitas famílias, acolher, respeitar, compreender, integrar
e ajudar são gestos que devem ser criados pelas nossas igrejas. É necessário criar
e revitalizar movimentos e grupos que se prendem com os setores da pastoral
familiar, vocacional e juvenil.
A família é a verdadeira fonte e berço da
civilização do amor, por sua vez, a esperança é a fonte da alegria das nossas
famílias. Compete, pois, à comunidade cristã, a iniciação neste processo
experiencial e de comunicação vital que leva ao desenvolvimento de relações
interpessoais sadias e a todos poderá congregar em família. A Igreja é a casa
paterna, onde há lugar para todos.
Artigo do bispo
português, D. António Moiteiro Ramos.
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